Entenda como o 1º corte de juros nos EUA em quatro anos pode impactar o Brasil

O banco central dos Estados Unidos, o Federal Reserve (Fed), cortou os juros em 0,5 ponto percentual. Agora, as taxas do Fed estão na banda de 4,75% a 5% ao ano.
A primeira queda das taxas norte-americanas desde 2020 era amplamente aguardada pelo mercado.
Apesar de não influenciar diretamente nas taxas praticadas pelo setor de crédito no Brasil, com os juros mais baixos nos EUA, aumenta o diferencial entre os valores praticados aqui e lá.
E por que isso é acompanhado de perto? A resposta está no carry trade.
Leia Mais
Banco central dos EUA corta juros em 0,50 ponto, primeira queda desde 2020
Juro real neutro está mais alto, diz economista
Alta de juros seria excessiva e prejudicaria crescimento econômico do país, diz CNI
Este movimento de investimento consiste em você pegar dinheiro a juros menores em um país e colocá-lo em países que têm os juros mais altos, como o Brasil.
O objetivo é buscar lucro com essa diferença nas taxas de juros praticadas nos países. Ao buscar o empréstimo mais barato, o investidor transforma esse dinheiro na moeda do país com juros mais altos para aplicar em um ativo local, geralmente de renda fixa.
O resultado: remuneração com juros maiores. Por tanto, o país se tornaria mais atraente para o investidor estrangeiro.
“Se os Estados Unidos estão remunerando mais, a gente precisa oferecer para o investidor essa gordura de juros por conta do risco que essas economias [emergentes] representam para o investidor”, explica Camila Abdelmalack, economista da Veedha Investimentos.
Vale dizer que o mercado tende a antecipar movimentos como estes. Logo, esse crescimento de fluxo para o Brasil já tem sido observado nas últimas semanas, refletindo efeitos no dólar, que vem caindo.
“A grande discussão que a gente tem é esse descompasso que o Brasil vai ter em relação às economias desenvolvidas. Tivemos os cortes no ano passado, mas os juros ainda ficaram num patamar restritivo. O que a gente observa nos últimos dias já é um movimento em reflexo da leitura de que teremos um diferencial maior em relação aos Estados Unidos”, aponta Abdelmalack.
Logo após a divulgação do corte pelo Fed, por volta das 15h20, a moeda norte-americana caía cerca de 1% ante o real, negociado em R$ 5,42. Na terça-feira, o dólar encerrou o dia cotado em R$ 5,51.
“A decisão é uma sinalização positiva para a economia global e tende a ter impacto positivo para os mercados emergentes, principalmente no comportamento da taxa de câmbio”, reforça Cristiane Quartaroli, economista-chefe do Ouribank.
O câmbio vinha subindo fortemente nos últimos meses, até essa precificação recente do diferencial de juros. A economista-chefe da Galapagos Capital, Tatiana Pinheiro, aponta que antes dos investimentos virem em maior peso, ainda é necessário observar um movimento de controle do câmbio.
“Esse diferencial tem de ficar estável em algum patamar e a volatilidade do câmbio precisa cair para atrair reservas e ter efeito de fortalecimento de real. O enfraquecimento do real come a rentabilidade. Não basta apenas o diferencial de juros ser alto, é preciso volatilidade menor do câmbio”, avalia Pinheiro.
Mas, uma vez que grande parte desse movimento já havia sido precificado, Abdelmalack explica que o investidor vai ficar de olho para surpresas nos comunicados tanto do Fed quanto do Comitê de Política Monetária (Copom) para entender o quão profundo podem ir esses investimentos.
“Se o Fed for nesse ritmo de 0,5 e passar uma mensagem mais dovish, a gente pode ver um movimento global de desvalorização do dólar. Em relação ao nosso Copom, se ele for em [uma alta de] 0,25, já está na linha do mercado, mas se elevar em 0,5 podemos ver um fortalecimento do real, por conta desse diferencial”, explica a economista da Veedha.
“O mercado olha agora não só a decisão em paralelo, mas também as sinalizações.”
Este conteúdo foi originalmente publicado em Entenda como o 1º corte de juros nos EUA em quatro anos pode impactar o Brasil no site CNN Brasil.